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AVIVAMENTO NA ÁFRICA DO SUL
ERLO STEGEN


CONVERSÃO E CHAMADA
PARA O MINISTÉRIO

 

Quando Deus me chamou para pregar o Evangelho, eu não quis obedecer. Era algo difícil para mim, porque eu tinha outros ideais. Eu não conseguia entender alguns rapazes da minha idade – e acredito que eles também não podiam me entender. Quando eles saíam para namorar, eu dizia: "não consigo entendê-los; prefiro ganhar dinheiro". Assim, eles saíam, visitavam as garotas e eu me ocupava em ganhar dinheiro. Dinheiro valia mais que garotas para mim. Eu dizia "primeiro vou ganhar dinheiro e o resto virá depois".

Havia um pregador excelente em nossa Igreja. Ele pregava melhor que todos os outros pregadores que eu conhecia. Naquela época, eu e meus irmãos costumávamos levar nossos chicletes e bombons para a Igreja e quando o pastor começava a pregar, nós caíamos no sono, ou chupávamos nossas balas. Mas quando este pregador veio, nós não sentíamos vontade de dormir. Ele pregava muito bem e seus sermões eram muito interessantes e, devo dizer, muito breves – e era isto que nós gostávamos. Por exemplo, na época da Páscoa, quando havia as competições em Pietermaritzburg, nós íamos ter com ele e lhe pedíamos: "nós gostaríamos de ir a Pietermaritzburg para as corridas, será que o senhor não podia pregar um sermão bem curto?" E ele então pregava por 10 a 15 minutos e nós dizíamos; "este é o tipo de pregador que gostamos".

Aquele pastor sul-africano, todavia, era infeliz, apesar de ser um homem brilhante. No seminário na Europa, onde estudou, fora o primeiro a conseguir resultados tais como nenhum outro havia conseguido antes. Foi o primeiro e talvez também o último. Um homem brilhante, porém, sem paz no seu coração. Jesus estava na sua mente, mas não no seu coração. Ele imaginou que, tornando-se um pregador, estudando e conhecendo Grego, Hebraico e Latim, e tendo muitos conhecimentos, ficaria satisfeito, e este problema seria resolvido. Desta forma, foi para a Europa com o propósito de estudar. Estudou muito tempo. Descobriu, porém, que apesar de tudo não tinha paz. Então pensou em voltar para a África, tornar-se um missionário e pregar o Evangelho.

Seus professores não podiam entender este desejo "Você vai voltar para África? África não precisa de um homem assim. Você deve ficar na Europa. Vai desperdiçar seus talentos se for para África. O que vai fazer lá? " Ele então respondeu que tinha muitas bananas na África do Sul e que vinha tentar aprumá-las (porque bananas são curvas e não se endireitam). "É um caso perdido", diziam seus professores.

Assim ele voltou para a África do Sul e começou a pregar o Evangelho. Mas descobriu que isto não o satisfazia. Então pensou, "devo me esforçar mais no meu trabalho". Começou a pregar e a trabalhar muitíssimo, como poucos pastores trabalham. Consequentemente, as autoridades da Igreja disseram, "Ele é bom demais para ser um missionário entre os negros; ele precisa de uma Igreja de brancos". Foi assim que ele se tornou nosso pastor.

Aquele homem trabalhava tanto, que seu corpo não podia mais aguentar. Por fim foi ao médico. Este médico era um judeu descrente. Quando o pastor apareceu em seu consultório disse-lhe: "É estranho que vocês, cristãos, sejam pessoas tão nervosas. O que eu noto entre vocês, é que parecem ter medo da morte. Se pudessem fugiriam dela! Não entendo; sou um judeu, não creio que Jesus é o Messias – mas vejo que vocês, cristãos, temem a morte, pois mesmo antes de haver algo errado em vossos corpos, correm para o médico buscando ajuda, com medo de morrer". Esse pregador voltou para sua casa, envergonhado do que o médico judeu lhe falara. E disse à sua esposa. "O médico disse que eu devia parar de pregar por algum tempo, dar uma pausa completa, ter repouso, doutra forma, terei uma crise nervosa". E continuou, "mesmo que tenha que percorrer o mundo todo, acredito que deve haver uma pessoa que me possa ajudar "

Ele ouviu falar de um evangelista. Na verdade ele o desprezava, mas, devido à sua grande necessidade estava disposto a ir mesmo até àquele homem, de quem ouvira falar muita coisa ruim. E assim, partiu e o encontrou em Pretória. Quando conversou com ele sobre teologia, ficou desapontado! Percebeu que não conhecia Grego muito bem e que o seu Hebraico era pior ainda. E pensou, "O que tem este homem para me dizer? Ele não tem qualquer preparação! E sou um teólogo, um dos mais eruditos. Este homem não pode ajudar-me ". Mas aquele homem tão simples sabia orar. E disse, "Vamos nos ajoelhar e orar". E orou, "Oh, Senhor Jesus, peço que permitas que tua luz irrompa". Nosso pastor nos disse que quando eles estavam ajoelhados, "a luz irrompeu". E pela primeira vez em sua vida, ele abriu seu coração para o Senhor Jesus e pediu que Ele entrasse. Assim, aquele milagre aconteceu em sua vida. Ele voltou e sua pregação era diferente, sua vida era diferente. E Deus começou a trabalhar em nossos corações também.

Lembro-me de um dia quando, na Igreja, eu estava começando a ficar consciente de alguns pecados em minha vida. Éramos 5 irmãos. Nossos pais nos forçavam a ir à Igreja e eu dizia, "quando crescer jogarei tudo isto fora". Mas, Deus em sua graça, entrou em minha vida antes que eu crescesse. Eu me consciencializei que precisava de Jesus porque íamos à Igreja; mas antes mesmo de chegarmos a casa, já havíamos discutido no caminho. Eu sabia que havia pecado, pois havia discutido com meus irmãos. Meus pais diziam algo e eu não obedecia, dizendo o que queria e pensava. Logo depois, eu estava consciente de que havia pecado. Chorava e pranteava e dizia, "O Deus, eu estive na Igreja e prometi que viveria para Ti e antes de chegar em casa, nós discutimos no caminho!". Orava de manhã e de noite e nada mudava. Então me consciencializei de que o Senhor Jesus precisava salvar-me do hábito de discutir, que eu precisava que o Senhor Jesus me salvasse da desobediência com relação a meus pais, pois sabia que uma pessoa que discute e desobedece a seus pais ia para o inferno. Não há outro caminho; não há pecados pequenos nem grandes. O Senhor Jesus disse, "vocês ouviram o que foi dito, não adulterarás. Eu porém vos digo que aquele que olhar para uma mulher com algo em seu coração, já pecou com aquela mulher", mesmo sem tocá-la, só pelo olhar para ela, relancear os olhos nela. "Ouvistes o que foi dito, não matarás, mas eu vos digo, se alguém odiar seu irmão se torna assassino". Se você começar a imaginar isto em seu coração, você já assassinou. É assim que Jesus irá julgar o mundo um dia – e a nós também. Eu estava consciente de que era um pecador condenado e perdido. Apesar de orar e ir à Igreja, havia pecados em minha vida. E Deus diz "A alma que pecar, essa morrerá". Não importa se é a alma de um homem branco, negro, indiano, ou o que for. Quando o pecado entra naquela pessoa, sua alma morre. Se não é assim, então Deus não falou a verdade. E a não ser que aquela pessoa seja salva daqueles pecados e se arrependa deles, está perdida.

Lembro-me do dia em que orei, isto depois da mensagem: "Ó Jesus, preciso de Ti. Entra em minha vida. Muda-me e salva-me dos meus pecados". Pouco depois, senti que Deus me chamava para o ministério. Era uma decisão muito difícil. Eu não sabia de ninguém em nossa família que havia sido um pregador ou um missionário antes e pensei, "Como poderei ser um pregador? Gosto de dinheiro (esse era o meu deus). Se eu me tornar um pregador serei um homem pobre". Eu sabia que o pregador da nossa Igreja era um homem muito pobre. Alguns pregadores ganham bons salários, mas, os de nossa Igreja eram muito pobres. E eu não queria aquilo para mim.

Vivi no inferno durante 18 meses. Orava: "O Deus, não posso pagar este preço, é alto demais". Mas depois de 18 meses, eu  e consciencializei que o preço da desobediência é mil vezes pior do que o da obediência – e eu não gostaria que nenhum de vocês passasse pelo que passei. Depois de 18 meses eu disse. "Está bem, Deus, eu serei um pregador, mas com uma condição: não quero ser um pregador só por ser um pregador, para distrair as pessoas aos domingos por uma hora ou duas, para baptizá-las, casá-las e enterrá-las. Senhor Jesus se eu me tornar um pregador, quero ser um pregador mesmo, pregar a verdade. Não quero brincar de igreja. Estou renunciando a muita coisa, para fazer de tudo isto apenas uma brincadeira. Se tenho que pregar, quero pregar a verdade".

Eu era muito jovem quando me converti. Não gostava de livros. Na escola, quando eu tinha que ler, era um fardo para mim. Mas estranhamente, quando Jesus entrou em meu coração, eu amei a Bíblia e só queria ler a Bíblia, era o mais doce dos livros para mim. Eu não tinha o menor amor por outros livros, só pela Bíblia. Eu sabia que meus irmãos tinham livros mundanos, retratos de garotas peladas – e sem que eles soubessem, fui e joguei-os no fogo e os queimei. E quando eles procuraram, não lhes disse o que tinha feito! Eu era um discípulo secreto do Senhor Jesus! Eu sabia que Jesus não gostava daquele tipo de livro, portanto não perdi permissão a meus irmãos, apenas fui, peguei-os e lancei-os no fogo.

Eu lia intensamente a Bíblia. Quando minha família saía para alguma visita, eu arrumava uma desculpa para ficar em casa, sozinho, para ler, orar e cantar. Antes disso, eu nunca havia cantado. Na escola, as crianças tinham que cantar, mas, eu nunca cantava. Disse aos professores "Não gosto e nem posso cantar". Mas quando Jesus entrou no meu coração, não podia parar de cantar. Aprendi capítulos da Bíblia, uns atrás dos outros e quase os decorei, como por exemplo João 15, João 17.

As promessas da Bíblia eram tão maravilhosas para mim! Li, por exemplo, que Jesus disse: "Se permanecerdes em mim e as Minhas palavras permanecerem em vós, pedireis o que quiserdes e vos será feito". Aí eu pensei. "Bem, isto é um tesouro maior do que dinheiro, mais que qualquer coisa que o mundo possa dar". Orei, "Deus, se existe uma vida tal como esta, em que uma pessoa pede o que quiser e lhe será dado, eu quero esta vida. Se esta promessa fosse a única que houvesse na Bíblia, valeria mais do que todos tesouros deste mundo. Ouro e prata não se podem comparar com ela". Imaginem, uma vida tal, em que a pessoa oraria e a sua oração seria ouvida. Isto incendiou meu coração.

Nós sabíamos o que o mundo podia oferecer. Lá em casa havia um enorme salão de danças. Todas as festas, todos os noivados e casamentos da cidade, eram celebrados lá. Sabíamos o que era pessoas se embriagarem, dançarem até altas horas da madrugada. E tudo isto acontecia quando éramos todos "excelentes crentes", indo sempre para a Igreja, sem nunca perder um culto... mas quando Jesus entrou nos nossos corações, perdemos o interesse por estas coisas e só estávamos interessados n’Ele e em Sua Palavra.

Havia tantas promessas que eu descobria na Bíblia, mais doces do que o mel, mais doces do qualquer coisa que o mundo podia nos dizer. Por exemplo, em João 14:12 Jesus diz "Em verdade em verdade vos digo, aquele que crê em mim, fará obras ainda maiores do que as minhas ". Li de novo e então tomei minha Bíblia e li em Mateus o que Jesus fez. E em Marcos, em Lucas e em João. Como vocês podem ver, isto encheu meu coração de alegria. Pensava nisto o dia todo. Carregava minha Bíblia o dia todo comigo. Naquela noite eu pensei muito nestas coisas, sonhei com elas. E orei, "O Deus, se tal coisa ó possível, eu creio em Ti. Isto tudo se aplica a mim. Senhor". Eu não podia pensar noutra coisa, excepto que tudo aquilo era para mim, porque eu me considerava um crente e fazia o que Jesus dizia.

E continuei: "Senhor, se eu vou me tornar um pregador, quero ser um pregador semelhante a Ti". Eu sabia que o Senhor pregava frequentemente nas montanhas, nos vales, algumas vezes nas sinagogas e algumas vezes – talvez mais ainda – ao ar livre. E orei, "Senhor, eu não quero pregar nas Igrejas. Mesmo que tenha que pregar nas montanhas e debaixo das árvores, ficarei satisfeito, desde que eu possa pregar e ensinar do jeito que o Senhor fez".

 

MISSIONÁRIO ENTRE OS ZULUS

Assim que acabei de concluir minha formação, o Senhor fez algo que eu não esperava: abriu as portas para que eu trabalhasse como missionário entre os Zulus. Eu havia imaginado pregar para os brancos, mas as portas se abriram para os negros. Menciono este facto porque nunca imaginei tal coisa. Antes que Jesus entrasse em meu coração, eu não cria que uma pessoa que não tivesse cor branca fosse ser humano como nós. Eu não acreditava que eles podiam sentir como nós. Hoje me envergonho disto e glorio-me no fato de que passo a maior parte do meu tempo entre pessoas que não são brancas. Mas, quando Jesus entra em uma vida, tudo muda. Ele toca exactamente naquilo que ó pecado. Eu não sabia pregar ou falar em zulu, pois não tinha interesse neles, antes desprezava-os. Mas porque amava o Senhor Jesus, eu aprendi a língua Zulu.

Fui missionário por vários anos entre os Zulus, antes que o avivamento irrompesse. Quando eu pregava a eles, ia directo ao assunto.  Tinha ouvido falar que um pastor branco não podia pregar assim, e certa vez um pastor indiano me confidenciou: "Precisa-se ter muito cuidado com o que se diz, porque se você pregar de forma muito directa, o povo deixa de ir à igreja". Mas, quando comecei a pregar aos Zulus, disse-lhes a verdade: "Vocês tem que se arrepender, tem que mudar, do contrário, irão para o inferno. Vossos ídolos tem olhos e ouvidos, mas não vêem nem ouvem. Jesus é a solução". Então os Zulus diziam:

“Umfundisi” (pastor), ouvimos o que o senhor disse, mas o senhor tem que compreender que Cristianismo é a religião de homem branco. Nós temos a nossa própria. É a tradição de vocês. Vocês são cristãos porque seus pais eram cristãos. Se vocês pertencessem a uma família Zulu, seriam exactamente como nós somos". E eu respondia. "Antes, a minha vida era realmente assim, mas houve um dia em que Jesus entrou no meu coração e tudo mudou". Então eles diziam. "Bem, Cristianismo é bom, porque nós tiramos bastante proveito dele. Fomos ocidentalizados, vocês construíram igrejas e escolas para nós. Há tantas coisas boas que ganhamos por causa de vocês. Mas mesmo que o Cristianismo seja bom, não é bom o bastante. Mesmo que venhamos a nos tornar cristãos, temos que guardar nossa tradição também, temos que continuar adorando nossos deuses. Mesmo que nos tornemos cristãos, quando uma criança ficar doente, temos que a levar ao feiticeiro e ao curandeiro. Temos que descobrir por que esta criança ficou doente, quem a fez ficar assim. E quando alguém morrer, temos que fazer uma festa para o defunto, para trazer seu espírito de volta e adorá-lo. E se uma serpente entrar na casa, temos que a adorar, porque o espírito do morto entrou nela. E quando houver uma festa, temos que pegar cerveja e um pouco de carne, para colocar atrás da choupana, para que o morto venha e coma". Então eu lhes disse, "Tudo isso ó coisa do diabo. Jesus não tem nada a ver com essas coisas. Não precisarão fazer isso se tiverem Jesus .

Eles me diziam em Zulu que Cristianismo era como jogar água fria no fogo, pois extinguia a chama, e não descia até a raiz das coisas. Esta era a razão porque eles ainda precisavam guardar a sua tradição, pois a tradição descia ate à raiz das coisas. Então eu repliquei: "Não, Jesus é o bastante: se vocês tiverem Jesus, isto basta".

Um dia orei fervorosamente, "Senhor, por favor, sê comigo hoje. Dá-me sabedoria e o poder do Espírito Santo no culto de hoje. Dá-me palavras e autoridade para que eu possa convencer estes Zulus de que Jesus não é o deus do homem branco, de que Ele não era apenas um judeu segundo a carne,  mas que é o Filho de Deus, de que morreu e ressuscitou ao terceiro dia, ascendeu aos céus, todo poder Lhe foi dado e que hoje não há nenhum outro nome dado entre os homens pelo qual possam salvar-se. Não importa a raça ou a cor, há apenas um caminho para todos e este é Jesus. Ele é a verdade, a vida, ninguém virá a Ti a não ser por Ele".

Preparei bem meu sermão Comecei com as profecias sobre Cristo contidas no Velho Testamento. Isaías profetizou sobre a Virgem seiscentos anos antes que o Messias nascesse. Contei-lhes sobre todas as promessas e como elas vieram a cumprir-se, que isto era prova de que as Escrituras eram verdadeiras. Contei-lhes como Cristo consequentemente morreu pêlos nossos pecados e ressuscitou, e que não precisamos ir à sua sepultura. Nós não adoramos Maomé – podemos ir à sua sepultura onde estão os seus ossos. Nós não adoramos Buda – ele morreu e foi o seu fim. E então lhes disse que se formos à sepultura de Jesus, não encontraremos o menor vestígio de ossos lá. Ele ressuscitou, subiu aos céus e agora todo poder Lhe é dado. Deus ordena que todos creiam em Jesus. E continuei. "Deixem seus feiticeiros e curandeiros, venham a Jesus, pois Ele não muda, é ainda o mesmo de dois mil anos atrás. E da mesma forma que pessoas vinham a Ele, nós temos que ir a Ele hoje".

Mal havia acabado de pregar aquela mensagem, quando uma senhora zulu idosa veio a mim e disse: "Umfundisi, é verdade o que o senhor nos contou?" Eu disse. "Sim". "Jesus, o Deus do homem branco está vivo, exactamente como você nos disse?" - "Sim". - "Você pode falar com Ele?” Eu disse, "Claro, você pode falar com Ele também. É isto que nós chamamos de orar. Todo mundo pode orar". Ela disse: "Oh, como estou feliz, achei finalmente uma pessoa que adora um Deus vivo! Eu tenho uma filha já crescida e ela é louca, doente mental. Por favor, você não pode pedir ao seu deus para curá-la?". Eu não sabia o que fazer! Pensei, "Que tolo que fui! Imaginei que tinha encurralado este povo, mas encurralei a mim mesmo, sem deixar a menor saída. E agora, como é que vou sair desta situação? Não posso simplesmente pedir a Deus para curar essa menina". Então pensei, "Essa mulher é uma pessoa muito primitiva, muito simples. Se fosse uma pessoa mais inteligente, eu simplesmente diria que não sabia se era a vontade de Deus curar sua filha. Talvez fosse a cruz que ela tinha que carregar, ou talvez não fosse o tempo de Deus para curá-la".

Todos estes pensamentos atravessaram minha mente. Se lermos a Bíblia, ela fala da cruz que temos que levar. Deus tem, de fato, uma vontade a ser realizada. Há tempo para todas as coisas. Então pensei que, se eu explicasse isto para aquela mulher tão simples, podia ser que ela ficasse confusa. Percebi, então, que estava encurralado, sem saber o que fazer.

Exteriormente eu permaneci calmo, sem aparentar que estava confuso por dentro. Perguntei, "Diga-me, sua filha está aqui?" - "Não", ela respondeu, "está em casa". Aquilo trouxe-me algum alívio. Eu pensei que se tivesse mais algum tempo, poderia traçar alguns planos. "Onde é sua casa", perguntei. "Não muito longe daqui, a cerca de um quilómetro". - "Podemos chegar lá de carro?" - "Metade do caminho", foi a resposta, "e o resto temos de caminhar."- "Muito bem", repliquei, "dê-me mais algum tempo para terminar o culto e as coisas por aqui. E depois irei com você de carro e andaremos o resto do caminho". Ela me disse que era viúva há quatro anos e só tinha aquela filha e um filho. O filho trabalhava em Durban, era casado e ela morava com sua nora.

Quando chegamos na cabana, olhei para dentro e disse-lhe: "Mas você não me disse metade do que estou vendo agora!" Achei a menina amarrada ao poste da cabana com arame . Este arame havia cortado ambos os braços profundamente e o sangue fresco escorria. Havia cicatrizes já saradas e feridas ainda frescas. A moça forçava de tal maneira o arame que este entrava profundamente em seus braços. E ela falava sem parar em outra língua, mas não podia perceber que tipo de língua era, nem o que estava dizendo. Perguntei: "Quanto tempo faz que ela está amarrada deste jeito?"- "Durante as três ultimas semanas. E está falando sem parar, dia e noite, não come nem dorme. Trazemos comida, mas ela toma o prato e joga contra a parede". "Mas, por que você não usa algo mais macio? Amarrá-la com arame é desumano”. Ela respondeu. "Já tentamos tudo, mas ela quebra em pedaços e depois foge; é muito difícil pegá-la outra vez. Ela ai para as hortas dos nossos vizinhos e arranca todos os milhos, legumes e vegetais. Eles ficam com raiva. Os homens vêm com paus e cachorros, caçam-na, pegam-na, batem nela. Aí ela volta para as montanhas e não vem mais. Lá é frio e chove muito... e eu fico sem saber onde ela está".

Com lágrimas nos olhos, a senhora olhou para mim e disse - "Pode imaginar o que significa para o coração de uma mãe ter uma Filha deste jeito?"  -. Eu repliquei - "Bem penso que deve ser algo de partir o coração". Ela continuou - "minha filha rasga as suas roupas, e corre por aí nua. Ela é muito feroz. Quando esta por perto, todo mundo se tranca nas cabanas e nas casas. Se morder alguém, segura a pessoa e não a deixa ir, até que chegue alguém e salve a pessoa daquela situação". “E”- prosseguiu, "ela invade os colégios. As crianças pulam pelas janelas, voam pelas portas afora". Eu vim a saber depois que o chefe da tribo, havia reunido um comitê, chamou esta mulher e disse: "Isto não pode continuar assim". Ela me disse, naquele dia em sua choupana: "Não tenho nem mais uma vaca sobrando. Nem mesmo um bode ou ovelha. Tive que matar cada vaca que tinha, em oferta aos espíritos e as que não matei, tive que vender para pagar os curandeiros. Estou sem um nada agora, não lenho nada, estou no fim de mim mesma. Não aguento mais. Acho que Deus, lhe enviou, pois estou a ponto de enlouquecer. É demais para mim. E agora quero lhe dizer que"- e então ela caiu em prantos - "muitas vezes tenho sido tentada, dia e noite, a pegar uma faca e cortar a garganta da minha filha, mas antes de fazer  isto, algo me diz: Cuidado, isso é um crime horrível, Você não deve fazer isso". Esta senhora ainda me confidenciou que, às vezes, pensava se não seria melhor cometer suicídio e dar um fim a si mesma. Mas então vinha a pergunta: “O que aconteceria a sua filha?” Ela sabia que sua nora não cuidaria da filha.

Não havia solução para o problema. Com lágrimas nos olhos, ela disse: "Estou tão feliz por ter encontrado alguém que serve a um Deus vivo. Agora tenho esperança em meu coração" Aí, meu próprio coração quase partiu, e orei e clamei em meu coração, "Ó Deus, Tu és o mesmo Deus de antes. Será que não podes fazer alguma coisa?"

Procurei três colegas meus e compartilhei esta experiência com eles. Perguntei-lhes se estavam dispostos a levar isto adiante comigo e a orar por aquela menina. Eles concordaram. Falei com meus pais e pedi-lhes um quarto na fazenda onde pudéssemos deixa-la, enquanto orávamos por ela. Eles acederam prontamente e assim fui com alguns homens e trouxemo-la".

A tribo toda sabia o que estava acontecendo. Disse aos colegas: "Amigos, faz seis anos que estamos orando por um avivamento e ainda não chegou. Quem sabe, isto será a mecha para atear o fogo?” Se esta moça for curada, pode ser que o avivamento pelo qual estamos orando todos estes anos venha, pois cada pessoa desta tribo a conhece, do chefe, as crianças... Que vitória para o Senhor Jesus, se ela for curada! Então eles poderão ver que seus deuses não podem socorrer, mas Jesus pode". Mobilámos o quarto e trouxemos a menina. Mal entrou no quarto, ela começou a quebrar as cadeiras, virando a mesa de cabeça para baixo. Tivemos que tirar toda a mobília do quarto, só deixando a cama. Mas, como a menina queria quebrá-la também, acabamos por tirá-la do mesmo jeito. Só deixamos um colchão, um lençol e um cobertor. Ela então começou a quebrar a moldura das janelas. Dentro de poucas horas, aquele quarto parecia mais um chiqueiro, não de um porco só, mas de muitos. Oramos dia e noite, por três semanas, e ao fim delas, a menina não foi curada e eu estava no fim, perto de uma crise nervosa. Ela cantava hinos e coros satânicos. Alguém me disse: "Invoque o sangue de Jesus, que o diabo treme e foge". Fizemos isso mesmo, mas não adiantou. Na verdade, ela blasfemava, cantando blasfémias sobre o sangue e a morte do Senhor Jesus, como só demónios sabem fazer. Ela se sentava lá, meio despida - ou totalmente despida - sobre sua própria imundície, blasfemando, batendo com o pé descalço sobre o piso de concreto, como se alguém pegasse uma marreta e batesse no concreto para quebrá-lo. E isto continuava por horas, enquanto perseverava em cantar músicas blasfemas sobre o Senhor Jesus e Sua morte.

Após três semanas, reflecti: "Não posso entender. A Bíblia diz assim, mas não funciona. Teoricamente está certo, mas na prática não funciona." Senti-me desiludido. Há pessoas "sábias" neste mundo que dizem que não existe um Criador do universo, que não existe um Deus...Milhões, biliões de anos atrás, nós éramos peixes. Aí, um deles criou umas pernas, virou uma rã, um macaco, um gorila e de alguma forma a cauda caiu e a raça humana começou. Assim, tais "sábios" podem lhes contar como foi exactamente, até mesmo dizer em que ano foi que isso se deu. Mas faltam fósseis destas transições, faltam os elos. Muito tempo atrás, talvez alguns de vocês ainda se lembrem, o professor Smith pegou um peixe, o Coelacantus'". E pensaram. "Este é um elo perdido". Ficaram desapontados quando descobriram que não era. Então pensei: "Estou me sentindo como os evolucionistas e acho que eles estão se sentindo como eu agora. Teoricamente funciona, mas não na prática. Agora, o que e que vou dizer?” Tenho de voltar para a mãe e dizer que sua filha não foi curada".

Todo mundo sabia que os crentes estavam orando por aquela menina. Eles sabiam que eu tinha dito "Deixem os seus feiticeiros, não vão para os curandeiros, não sacrifiquem bois e bodes, não adorem seus deuses, Jesus é a resposta para todo tipo de problema, venham a Ele" E eles estavam esperando para ver o resultado. E agora, os crentes falharam. Nós havíamos orado com seriedade: "Deus, não é nosso nome que está em jogo, mas o Teu! Porque eles não vão dizer, que nós falhamos, mas que Jesus falhou". No entanto, os céus eram como que de bronze e não traziam qualquer resposta às nossas orações. Eu não conseguia entender. Então, nós desistimos. Tinhamos que levar a menina de volta. Orei: “Deus”, agora eu oro por uma transferência, leva-me para outro lugar qualquer. Não posso ficar na presença deste povo e pregar. Tenho que ser honesto com eles. Não posso dizer-lhes que funciona, que é a verdade, pois não funciona. E também tenho de ser honesto comigo mesmo, pois tenho um coração e consciência e meu coração não pode desculpar-me, nem minha consciência. Portanto, tenho que ser honesto com este povo e comigo mesmo também".

Eu não queria dizer aos Zulus que não havia um Deus, ou que o Cristianismo não funciona. Era um problema que eu não podia resolver. Pensei simplesmente em partir e ir para outro povo. Mas disse a mim mesmo que eu nunca mais iria ser tolo como havia sido ali, pregando da mesma forma, de maneira que acabasse na mesma situação.

Dali em diante em meu ministério, não podia mais crer que a Bíblia, de capa a capa, era o livro de Deus e que tudo escrito nela era verdade. "Não", eu dizia, "metade da Bíblia é verdade e metade não". Ao que não conferisse com minha experiência e linha de pensamento, eu diria "Não". Eu era como um tolo, que se sentava no trono e julgava tudo o que era verdade e o que não era: "Isto é para hoje, aquilo não. Aquilo era para dois mil anos atrás, mas não para hoje. As coisas mudaram, não podemos esperar que ainda seja verdade.

Eu havia pregado o evangelho durante todos aqueles anos, e às vezes, centenas de pessoa vinham à frente com o apelo após as reuniões para aceitar a Cristo. Orava com eles "a oração do pecador" e eles iam para casa. Eu conhecia, porém, a vida posterior daqueles jovens que haviam respondido ao apelo. Sabia que tipo de livros liam em casa. Sabia que alguns deles tinham pornografia em casa. E eles tinham aceitado o Senhor Jesus Cristo! Sabia também que havia alguns rapazes que não podiam passar por uma livraria onde havia posters de mulheres nuas nas paredes, sem olhar e alguns não podiam passar sem entrar e comprá-los mesmo, ainda que tivessem de esconde-los. E cada um deles tinha aceitado o Senhor Jesus Cristo!

Comecei a reflectir sobre este assunto. Jesus havia dito à mulher samaritana: Aquele que beber desta água tornará a ter sede. Mas aquele que beber da água que Eu lhe der, jamais terá sede”. Então eu disse. “Isto não é verdade!” Existe uma raça, um povo nesta terra, que tenha mais sede do que os crentes? Alguns têm sede de pecados e, se não podem cometê-los directamente, cometem-nos indirectamente. Se não podem fazê-lo abertamente, fazem-no em oculto. E eles vieram a Cristo! Só que ainda têm sede. Alguns, sede de cigarros. Outros, de bebidas, outros, de sexo, das coisas deste mundo". Alguns ainda perguntam, "Por que não podemos ir para a discoteca? Por que não podemos dançar? Por que não podemos aproveitar a vida como os outros?" E, os pais, se não forem eles próprios praticantes destas coisas também, têm a maior dificuldade em controlar seus "animaizinhos" em casa. E todos eles são crentes! Pensei comigo, "Não, isto não e verdade. Jesus cometeu um engano quando disse tais palavras". Na verdade eu não dizia que Jesus cometera um erro, mas que os que escreveram que Jesus disse se enganaram, cometeram um engano. Fora João quem cometera o erro, por não escrever exactamente o que Jesus dissera, Essas pessoas haviam vindo a mim em resposta às mensagens, eu havia orado com elas, aceitaram o Senhor Jesus, mas ainda tinham sede. Bastava olhar para a maneira de se vestirem. Exactamente como o mundo!

A Bíblia diz que não devemos ser como o mundo e nem nos devemos conformar com ele. Mas hoje em dia, se um crente e um descrente estão andando na rua, geralmente você não sabe quem é quem. E a Bíblia diz: "Não vos conformeis com este mundo". Eu sabia que aquilo não era verdade na prática, e que portanto, aquele versículo da Bíblia não era verdade; ali havia muitos versículos na Bíblia dos quais eu dizia, "Não é verdade". Eu não acreditava no que estava escrito. mas sim nas experiências que eu estava passando, e no que pensava e ouvia.

Continuei a pregar por mais seis anos. No total, foram doze anos. Depois de doze anos, vim para Mapumulo, sentei-me, comecei a pensar e lembrei que havia dito a Deus, quando me chamara para pregar o Evangelho: "Deus, se eu vou pregar o evangelho, não quero brincar de Igrejas. Não tenho tempo para brincar de Igreja, prefiro ganhar dinheiro." Agora, eu perguntava a mim mesmo. "Erlo, o que é que você vem fazendo nos últimos doze anos?" Então eu disse: "Brinquei de Igreja todo este tempo." Por doze anos eu havia pregado o Evangelho, mas não podia apontar doze pessoas que fossem realmente crentes como a Bíblia diz – não podia! Doze pessoas! E disse "É verdade o que a Bíblia diz, que nos últimos dias sobrevirão tempos difíceis, porque as pessoas terão a aparência da piedade, mas negam todo o seu poder”. E ainda, “aparta-te dos tais”. Há pessoas que têm o poder da piedade. Mas eu disse a mim mesmo que eu não tinha tal poder. Não podia continuar mais daquele jeito. Via outras pessoas que, aparentemente, estavam aproveitando suas vidas, ganhando dinheiro e aqui estava um missionário pobre, pregando algo que não funcionava.

 

AS REUNIÕES DE ORAÇÃO
EM MAPUMULO

Certa ocasião, durante este período de fracasso no ministério, reuni uma congregação de Zulus que havia em Mapumulo e disse-lhes: "Estou acabado. Não estou em condições de continuar deste jeito". Eu sempre usava teologia para desculpar certas coisas. Eu dizia que se os Zulus não estavam vivendo da maneira que deviam por serem ignorantes. Se eles tivessem mais cultura, se tivessem estudado mais, entenderiam a verdade e se apossariam dela. Eles eram muito primitivos, ignorantes, por isso não podiam entendê-la. Havia, porém, trechos da Bíblia que eu não podia esquecer. O Senhor Jesus um dia tomou uma criancinha, colocou-a no meio dos discípulos e disse: "A não ser que vocês se tornem como uma criança tal como esta, jamais entrarão no reino dos céus". E isto é o que cada crente, cada pessoa, cada pastor, cada teólogo deveria colocar no coração. Ninguém, no passado ou no futuro, jamais conseguirá entrar no reino de Deus, a não ser que se torne como uma criança. Eu percebi, então, que devia esquecer toda a minha sabedoria e ler a Bíblia como uma criança. Perguntei aos Zulus, naquela reunião, se eles estariam dispostos a se congregar todas as manhãs, às sete horas, para um estudo bíblico e todas as tardes, às cinco horas, ou seja, dois cultos por dia. O propósito era ler a Bíblia como crianças. Disse-lhes: "Vamos ler a Bíblia sem procurar explicações que sirvam de desculpas para nos justificar, simplesmente aceitando o que está escrito. E se Deus é Deus, se a Bíblia é verdade, vamos experimentar, para ver se funciona". E eles disseram: "Está bem, concordamos"; e foi assim nós começamos.

Quando nos reunimos em Mapumulo, pelo fim de 1966, para os estudos bíblicos, tínhamos que escolher um livro para estudarmos. Não queríamos pegar um verso aqui, outro acolá, como crianças travessas quando pegam um bolo e despedaçam-no procurando as passas e outras guloseimas que estão dentro. Podemos entender que uma criança proceda dessa forma, mas isso é coisa absurda para adultos. isso não e ser como criança, é ser infantil! Algumas pessoas têm os seus versículos preferidos na Bíblia, que citam, usam e sobre eles constroem enormes edifícios doutrinários, como os "Testemunhas de Jeová", Tudo o que sabem é que Deus é um Deus de amor e pulam logo para a conclusão que não pode existir um inferno.

Eu disse aos Zulus "Não vamos proceder assim. Se vamos ler a Bíblia, não devemos pegar uma só uma parte, mas o todo. Vamos escolher um livro, começar com o primeiro versículo do primeiro capítulo e ir ate o fim. Desta forma teremos o quadro completo". Os Zulus tem uma história sobre três cegos que queriam ver um elefante. Finalmente, alguém veio e disse: "Está bem, vou levá-los ao Zoológico". Quando chegaram, trouxeram-nos para perto de um elefante. Era enorme, mas manso. Então disseram que eles podiam dar um passo adiante para dar uma olhada no elefante. Como vocês sabem, um cego não vê com seus olhos, mas com seus dedos. O primeiro avançou e tocou no elefante e o elefante não se moveu. Ele agarrou-se a uma das patas traseiras, e disse. "Ah, então e assim que é um elefante!" O próximo avançou também, pegou na barriga do elefante e disse. "É isto que e um e elefante!" F, o terceiro foi e pegou na tromba do elefante. Todos ficaram muito alegres, pois tinham finalmente visto um elefante. E assim, entusiasmados, voltaram para casa. Então perguntaram-lhes, "Vocês viram um elefante?"- "Sim". - "Bem, e como é um elefante?" O primeiro disse. "Oh, como o tronco de uma árvore grande". O segundo disse. "Hei, você não viu o elefante? Você não pode me enganar, eu estava lá. Um elefante é como um balão enorme". E o terceiro disse, "Vocês não estavam lá? Eu apalpei o elefante com minhas próprias mãos. Um elefante é como uma enorme mangueira de jardim!" Então começaram a discutir. Todos haviam visto o e elefante, mas o problema era que só tinham visto parte dele. Nós não queríamos ser como aqueles três cegos. Crentes podem ser cegos do mesmo jeito, cegos para muitas coisas.

Resolvemos escolher um livro. Por alguma razão começamos com Actos dos Apóstolos. Eu sempre tive uma predilecção pela Igreja Primitiva. Ninguém pode ler a história da Igreja Primitiva sem ficar tocado. Começamos com o primeiro verso, do primeiro capítulo e logo desde o inicio o Senhor se apossou dos nossos corações. O próprio versículo primeiro começa assim: "Escrevi o primeiro tratado, ó Tiófilo, acerca das coisas as quais Jesus começou a fazer e a ensinar". Ele escreveu a respeito do que Jesus "começou" no Evangelho de Lucas; e o livro de Actos é uma continuação do que Jesus fez quando estava neste mundo. Seu ministério terreno foi só o começo do que Ele fez. Não acabou com Sua morte. Na verdade, Ele disse a seus discípulos "Oh como desejo poder fazer aquilo para que vim a este mundo! " Ele disse: "Eu vim para lançar fogo sobre a terra, parei acender um fogo", (Lucas 12:49). E continuou. "Oh, como Eu desejo, como anseio poder acendê-lo, mas não posso. Tenho um baptismo com o qual deve ser baptizado primeiro”. Não era baptismo com água, mas baptismo do sofrimento da morte na cruz. O Senhor não podia acender o fogo do Espírito Santo antes que sofresse e morresse na cruz. Por isso Ele disse: "Oh, como eu anseio por isto. Vim para este mundo acender um fogo, mas ainda não posso acendê-lo. Tenho que ser baptizado com aquele baptismo de sofrimento no Jardim do Getsêmani" Lá, Ele suou lágrimas de sangue e depois morreu na cruz. Esta é a razão pela qual Jesus veio, para atear um fogo neste mundo. Depois de morrer, ressuscitar e subir aos céus, finalmente Ele podia fazer aquilo para que veio e continuar com Sua obra. Tal obra não acabou com Sua morte. Aquilo foi só o começo. Agora Ele podia continuá-la, na plenitude do Seu poder, sentado à direita do Pai e finalmente atear aquele fogo pelo qual esperou tanto tempo. Eventualmente, o momento chegou. Agora, nós O vemos trabalhando no mundo, no poder de Sua ressurreição, na Sua força toda poderosa, através dos seus discípulos.

Nós também lemos em Actos que no dia de Pentecostes, após a descida do Espírito sobre os discípulos, alguns dos espectadores disseram: "Estes estão cheios de vinho! E por isso que estão agindo assim". Quiseram fazê-los de tolos e falar mal deles. Isto sempre acontecerá onde quer que Deus esteja agindo. Mas Pedro disse: "Eles não podem estar bêbados a esta hora da manhã. Eles não estão debaixo da influência do vinho! Isto é que o profeta Joel disse, que nos últimos dias. Deus derramaria Seu Espírito sobre toda a carne. E Ele começaria com os filhos e filhas, os velhos, os servos, todo mundo seria atingido por este evento. Isto é o que o profeta disse".

Quando lemos esta passagem nas reuniões em Mapumulo, dissemos: "Hoje é mais “últimos dias” do que dois mil anos atrás. Se esta promessa podia ser para eles, quanto mais para nós". Não precisamos ir muito longe para descobrirmos que estávamos vivendo na mesma dispensação da Igreja Primitiva. Entendemos que tal dispensação não havia chegado ao fim, isto só acontecerá quando o Senhor Jesus vier buscar Sua noiva. Espiritualmente falando, estamos vivendo na semana. A palavra do Senhor diz que "para Deus um dia é como mil anos e mil anos como um dia". Então dois mil anos são apenas dois dias, quer dizer, Pentecostes foi apenas anteontem! Não chegamos à metade da semana ainda! Desta forma, sem dúvida nenhuma, concluímos que aquilo era para nós também.

Quanto mais avançávamos, mais nossos corações se quebrantavam. Lemos no Evangelho de Lucas que o Senhor havia proibido os seus discípulos de pregar o Evangelho, até que recebessem o baptismo de fogo. Não o baptismo do qual João Batista falara. Hoje em dia há muitas disputas sobre o baptismo com água. Eu me lembro das palavras do Dr. Edwin Orr, em 1952 ou 53 em Pretória, em um enorme culto ao ar livre. Ele fez algo estranho. Convidou um pastor da Igreja Reformada para vir à frente, juntamente com um pastor Batista. Perguntou-lhes: "No baptismo, qual de vocês usa mais água?" Eu disse comigo mesmo, "Essa não! Como e que um doutor pode fazer uma coisa destas?" Mas eu não devia ter feito tal pergunta! Ele continuou, "Vejam, não faz diferença a quantidade de água usada para baptizar as pessoas. Infelizmente, a língua continua seca!".

O baptismo com água não transforma a língua. Crianças baptizadas na infância, ou mesmo adultos, às vezes dizem coisas que não deviam estar jamais nos lábios de um crente. O baptismo com fogo é o de maior eficácia. João Batista, nós lemos na Bíblia, é o maior dentre os nascidos de mulher. Temos Isaías, Moisés, Abraão e outros grandes homens de Deus. Mas disse Jesus. "Nenhum deles é tão grande como João Batista". Podemos perguntar em que consiste a sua grandeza.

Não sabemos de nenhum milagre que ele tenha feito, nem mesmo um cego cujos olhos foram abertos por ele, nem um aleijado que pôde começar a andar através de seu ministério. Onde está sua grandeza? Creio que reside nisto: apesar de João Batista ser o maior, declarou "O que vem após mim é muito maior do que eu, de forma que não sou digno de desataras correias das Suas sandálias”. Em que sentido o Senhor Jesus era tão grande aos olhos de João? E João dá os seus motivos: "Eu baptizo com água, mas o que vem após mim o fará com fogo, com o Espírito". Nós sabemos como é o fogo. Se pegarmos um pedaço metal ou ferro e o colocarmos no fogo, logo ficará vermelho e em seguida, ficará branco. Não é como a tinta, que fica só na superfície. O fogo penetra lá dentro. Portanto, se uma pessoa é baptizada com o Espírito Santo, aquele fogo santo penetra também na sua língua, bem como em cada parte do seu ser.

Jesus disse aos seus discípulos que permanecessem em Jerusalém, ordenou-lhes que de lá não saíssem, até que houvessem recebido a promessa do Pai e que fossem cheios do Espírito. Disse-lhes mais: “Vocês ouviram o que eu disse sobre João. Esperem pelo baptismo que ele mencionou, porque quando o Espírito Santo vier, vocês receberão poder para serem minhas testemunhas. Na verdade, quando lhes deu a promessa e lhes ordenou que não deixassem Jerusalém, mas permanecessem lá, havia uma razão especial. Talvez, se Jesus não lhes houvesse ordenado isso, eles teriam fugido. Quando o caminho é difícil, nós preferimos fugir. Crianças que acham que seus pais são exigentes demais para com elas, têm vontade de fugir. E há pessoas mesmo que fogem de uma Igreja para outra, porque dizem que é muito difícil ficar em tal igreja. A verdade é que se alguém não é uma bênção onde está, será uma maldição onde quer que vá. Os Zulus dizem que se colocarmos uma batata podre numa cesta cheia de batatas boas, ainda assim ela não se torna boa. Antes, a cesta inteira se estraga. Se não formos bem sucedidos onde estamos, não existe nenhuma garantia de que seremos uma bênção em outros locais apenas porque nos mudamos dali. Portanto, é bom que uma pessoa. primeiro que tudo, lance raízes onde está. Ela não tem nenhum direito de sair de lá a não ser que Deus lhe guie a tomar esta decisão.

Jesus ordenou a seus discípulos: "Permaneçam aqui." Jerusalém era para eles o lugar mais difícil para se poder ficar. Lá, os judeus haviam pregado o Senhor Jesus na cruz. Os discípulos haviam se escondido atrás das portas, com medo de serem mortos também. E devem ter sentido que aquele era o pior lugar do mundo para se estar. E era mesmo. Mas Jesus disse: "Fiquem aqui, até que o Espírito Santo venha sobre vocês e receberão aquela promessa, aquele baptismo do Espírito". Quando perguntaram. "Senhor, será este o tempo em que restaurarás Israel?". Ele repreendeu-os severamente: "Vocês não têm nada a ver com isto; mas receberão poder quando o Espírito Santo vier sobre vós". É possível que pessoas se assentem aos pés de Jesus, mas estejam concentradas em coisas que não são a vontade do Senhor. E de que adianta, meus amigos, estarmos ocupados com profecia, se não temos o poder do Espírito Santo para fazer o que devemos fazer e para sermos o que devemos ser? Acho que não houve época na história em que as pessoas mais falassem do Espírito Santo do que hoje. No mundo todos estão falando do Espírito Santo. Ao mesmo tempo, atrevo-me a dizer que as pessoas nunca foram tão ignorantes a respeito do Espírito como são hoje.

Algum tempo atrás, quando eu estava na Holanda, depois de uma série intensiva de pregações sobre avivamento, um professor levantou-se e disse: "Nunca imaginei que eu viesse sustentando ideias erradas sobre reavivamento; sempre pensei que reavivamento tinha a ver com barulho." Embora isto sempre acontecerá pessoas pensarão que alguém está cheio de vinho, quando, de facto, está cheio do Espírito Santo - eu tenho experimentado e testemunhado este facto: quando o Espírito de Deus está realmente agindo, aqueles são os momentos mais silenciosos na vida de uma pessoa ou da Igreja.

O Senhor disse que haveria um sinal, quando o Espírito Santo viesse sobre uma pessoa. Aquela pessoa receberia poder. Se há de haver um sinal, aceitamos o sinal que o próprio Senhor Jesus falou.

Poder, no grego, é "dunámis". Gosto de pensar na palavra "dinamite". Dinamite tem poder e este poder não se usa em areia fofa ou terra arada, mas na rocha mais dura: este poder quebra a rocha em pedaços. O poder do Espírito Santo é para locais onde o chão é duro, duro como granito, como rocha. Aí o Espírito Santo é mais eficaz.

Jesus disse aos discípulos que receberiam poder para serem Suas testemunhas. O que é testemunha? Alguém dá testemunho do que tem visto ou ouvido. No grego a palavra usada para "testemunho" é "mártus", que também significa "mártir ". Significa que uma pessoa está preparada para ir até às últimas consequências em seu testemunho. Noutras palavras, Jesus prometeu que quando o Espírito Santo viesse sobre eles, teriam poder para morrer. Estranho! Devíamos dizer "poder para viver"; entretanto, Ele disse: "Vocês receberão poder para morrer." Bem, é claro que nós não morremos na África do Sul, hoje, por amor a Cristo. Temos que ir à Rússia para nos tornarmos mártires. Entretanto, nós podemos ser mártires aqui, em outro sentido, que é a raiz deste conceito. Em Hebreus nós lemos que “ainda não tendes resistido ao pecado até a morte, ao ponto de derramar sangue” . O que significa isto? Que uma pessoa devia dizer: “Prefiro morrer a contar uma mentira, a adulterar com a mulher de outro homem, a ser um hipócrita ou um covarde, a ser infiel ao Senhor Jesus, a roubar". Isto é ser um mártir verdadeiro.

Tal é o significado de receber poder para ser uma testemunha, para ser um mártir por amor ao Senhor Jesus. Pedro negou ao Senhor, mas depois que recebeu poder, não mais o negou e estava preparado mesmo para morrer por Ele. De fato, segundo o que consta, Pedro morreu crucificado dizendo, "não sou digno de morrer como meu Mestre morreu, prefiro que me preguem na cruz de cabeça para baixo." Ele foi uma testemunha, tinha o poder do Espírito Santo e podia morrer por Jesus. Podia morrer pela verdade, morrer por Deus. Ele tinha aquele poder.

Entretanto, ser mártir por Jesus não significa somente estar preparado para enfrentar a morte física, mas também outra forma de morte. Paulo diz: “Todo o dia morro”' Ele morria diariamente! E alguém precisa ter o poder do Espírito para ser capaz de morrer  assim. Como morremos diariamente? Jesus morreu no Getsêmani. quando suou sangue e orou dizendo: "Não a minha vontade, a Tua vontade seja feita". Ele morreu para si mesmo, antes de morrer fisicamente na cruz. Ele morreu por amor ao Pai - "Não a minha vontade, mas a Tua vontade seja feita." Assim morremos para nós mesmos – negando-nos a nós mesmos em vez de procurar os nossos próprios interesses. Não há algo mais difícil para nós que isto, mas, se tivermos o poder do Espírito Santo, seremos capazes de fazê-lo.

O poder do Espírito também se manifesta de outras maneiras. Se olharmos para os discípulos, perceberemos que eles haviam recebido tal poder. Pedro e João foram ao templo para orar. Certo aleijado estava assentado à porta do templo e Pedro simplesmente disse, em resposta ao seu pedido: “Em nome de Jesus Cristo, levanta-te”. E aquele homem se levantou. Notem o que Pedro disse: "Não tenho prata nem ouro, mas o que tenho isso te dou". Ele viera com João. Ele disse: "Olha para nós. O que eu tenha isto te dou”. Ele não disse: "O que nós temos." João não tinha o poder para curar doentes. Não sabemos de nenhum milagre que ele tenha realizado Entretanto, ele tinha o poder do Espírito Santo, exactamente como Pedro. Seus ministérios e dons não eram iguais. João não tinha aquele dom, porém Pedro tinha. Se perguntarmos acerca da autoridade e poder que João possuía, nós o encontraremos andando pelas igrejas, ensinando aos crentes a se amarem mutuamente, ensinando-os a serem um em Cristo Jesus.

João experimentou o poder do Espírito Santo de tal forma, que lhes escreveu uma carta, dizendo: “Se quisermos saber se uma pessoa é nascida de Deus ou não, há uma forma relativamente fácil. Se alguém peca é do diabo. Se é nascida de novo não peca”. Isto faz os teólogos balançarem a cabeça: "Oh, ele não devia falar assim." É bom que João já tenha morrido, bem como os demais discípulos, pois bem pode ser que, se eles estivessem vivos, nós mesmos acabaríamos por martirizá-los. Podemos entender muito bem por que o povo daquela época cortou a cabeça de João Batista. Talvez nós próprios a tivéssemos cortado ainda mais cedo do que eles. Leia apenas o que João Batista disse em Mateus 3 e imagine se o pastor de sua Igreja pregasse daquele jeito! O apóstolo João não tinha o dom de curar como Pedro, mas havia experimentado o poder de Deus a um ponto tal, que não podia entender como uma pessoa que havia nascido de novo ainda mentia. Ele não podia entender como alguém que havia nascido de novo ainda roubava e era amiga deste mundo. Não podia entender como uma pessoa podia ser nascida de novo e continuar mundana. Não entrava em sua cabeça! Ele escreveu: "Uma pessoa que peca é do diabo". É por isso que eu disse que é melhor que João esteja morto. Se ele estivesse vivo e dissesse isso, quantos crentes verdadeiros haveria aqui neste recinto? Temos que entender que João havia experimentado o poder de Deus a um ponto tal em sua vida, que não mais concebia como uma pessoa podia ser cheia do Espírito Santo, e não ser vitoriosa sobre o pecado. Esta é realmente uma vitória formidável: não apenas ser curado de um resfriado, de uma dor de cabeça ou dor de barriga, mas ser vitorioso sobre o pecado, ir de vitória em vitória. Isto é poder! Foi o que Jesus prometeu ao dizer: "Vocês receberão poder quando o Espírito Santo vier sobre vocês!"

Amigos, a que ponto nos tornamos superficiais hoje em dia! Se alguém reivindica que fala uma língua estranha, dizemos que ele está cheio do Espírito, mesmo que ele ainda seja um mentiroso ou viva na imoralidade. A verdade é totalmente outra, se tivermos ouvidos para ouvir o que a Bíblia diz.

Quanto mais avançávamos no estudo do livro de Actos, mais os nossos corações se quebrantavam. Chegamos ao texto onde é mencionado que Pedro, João, Tiago, Felipe e os outros, foram ao cenáculo e lá oravam, junto com as mulheres e até com os irmãos do nosso Senhor, que a principio não acreditavam que Jesus era o Messias. Lemos que todos perseveravam "de comum acordo", em orações e súplicas, com as mulheres, Maria e os irmãos do Senhor. Entretanto Pentecostes ainda não havia chegado. Eles ainda não estavam cheios do Espírito. Mas, a morte do Senhor Jesus e a Sua ressurreição era suficientes para uni-los de tal forma, que eles podiam orar de comum acordo no cenáculo. A morte do Senhor. Sua cruz e Sua ressurreição, foram suficientes para uni-los. Para mim, este é o maior milagre. O normal é que crentes briguem entre si, falando um dos outros pelas costas. Um mata o outro, não com obras de feitiçarias, mas com seus lábios. Contudo, a morte do Senhor havia entrado tão profundamente nos corações dos discípulos, que podiam chegar-se junto a Deus; e Deus pôde dizer através de Lucas, o autor de Actos, que havia uma perfeita união entre eles. Foi a este ponto que a cruz de Cristo entrou em seus corações. Até que ponto a cruz de Cristo entrou no seu? A cruz trata com a inimizade, e  agiu desta forma na vida daquelas pessoas. Como resultado, eles podiam ser um.

Depois nós lemos que no dia de Pentecostes três mil pessoas se converteram. Quando o Espírito desceu. Ele fez  exactamente aquilo que Seu nome significa. O Consolador, em grego é "parakletos". Significa aquele que desce até nós, fica ao nosso lado, com seu ombro (para usar uma boa figura) junto do nosso. Em outras palavras: Ele desce ao nosso nível, e fala nossa linguagem. Foi isto que Ele fez no dia de Pentecostes. Cada um dos ouvintes podia ouvir em sua própria língua o que Deus lhe estava dizendo. Este e o "parakletos" - Aquele que fala nossa própria língua. Nós podemos falar a mesma língua, e ainda assim, permanecermos em mundos diferentes. Existe a língua do teólogo, do estudante, do universitário, do fazendeiro, do pastor. Nós falamos línguas diferentes, e algumas vezes nem nos podemos entender. Mas, quando o Espírito Santo vem, Ele pode falar tanto na língua do curandeiro como da feiticeira, do erudito e do ignorante, do educado e do que não tem cultura. Não importa a raça, o Espírito Santo pode falar de tal forma que todo mundo entende, mesmo uma criança. E foi isto que literalmente aconteceu em Pentecostes.

É bom que interpretemos correctamente a Palavra do Senhor. Ouvi, certa vez, falar de certo pregador famoso, que realizava uma reunião num auditório de uma certa cidade. No meio do culto ele disse à congregação: "Oremos agora como os discípulos oraram no Pentecostes, todos falando em línguas." E então, a congregação em peso começou a falar em línguas. Os hindus passaram, e não ouviram ninguém falando em sua língua. Os muçulmanos passaram e não podiam ouvir sua língua. Os Zulus passaram, e nenhum deles escutou também. Em Pentecostes, os discípulos falaram nas línguas daqueles que passavam e estavam presentes e tais ouvintes podiam entendê-las. Não sou contra o falar em línguas. Não desejo ser contra algo que Deus estabeleceu na Bíblia. Se é de Deus e é verdadeiro, dou boas-vindas. Mas a Bíblia diz que devemos “devemos manejar correctamente a Palavra de Deus”. Temos que expor o ensino sobre línguas de maneira precisa, caso contrário, não podemos entender porque as vidas de certas pessoas que alegam possuir tal dom não sejam como vidas rectas.

Em Pentecostes, os moradores de Jerusalém e visitantes, quando ouviram a mensagem, ficaram compungidos em seus corações. Três mil entre eles se arrependeram. É-nos e dito que este povo se reunia diariamente. Todos os dias Deus acrescentava-lhes os que se iam salvando, estavam juntos e tinham todos, um só coração e uma só alma. Que milagre! Milhares de pessoas! Acredito que havia mulheres e jovens entre elas. E todo aquele povo se reunia de comum acordo, com um só coração e mente! Geralmente nós ouvimos certos crentes dizerem: "Ainda bem que não tenho que viver com aquela pessoa da Igreja! Ele me enerva, fala demais, e é bom mesmo que só o pregador fale durante o culto. Depois do culto, felizmente, tal pessoa vai para casa! Eu não saberia o que fazer se tivesse que conviver com uma pessoa assim!”. Aquele povo, entretanto, se reunia diariamente. Estavam juntos, tinham um só coração. Não possuíam apenas um mesmo uniforme, nem somente pertenciam a uma mesma congregação. Lá, dentro do coração, eles eram um. Em Mapumulo, na época destes estudos em Actos, nos éramos  somente vinte, trinta ou quarenta pessoas, mas, deixem-me dizer-lhes, que atritos e divisões havia entre nós! Cada vez que eu ia visitá-los tinha que ser um pacificador, porque um não podia aguentar o outro. Um tinha algo contra aquele outro. Ainda outro dizia: "Fulano me maltratou". Este criticava aquele. Aquele tinha algo contra alguém, mas não iria dizer-lhe face a face e sim aos seus amigos. Outros falavam à vontade sobre os pecados do próximo, mas nunca falavam sobre os seus próprios, vivendo um padrão duplo, uma vida dupla, tendo dois pesos e duas medidas - o próprio sendo hipócrita. Alguém só precisa ler o relato do que aconteceu durante Pentecostes para ver quantos grupos, de línguas diferentes havia lá. Todos eles, apesar das culturas diferentes, das línguas serem diferentes, eram uma só mente, um mesmo coração. Que milagre!

Lemos ainda que os discípulos oraram, e que nesta ocasião, o local onde se reuniam tremeu! Não é de se admirar que se diga que a oração de um povo assim abalou o mundo. Já existiu uma época em que houvesse tantas orações e reuniões de oração como na nossa época? O mundo entretanto não tem sido abalado e não será jamais, a menos que os crentes sejam mais abalados hoje em dia. Oramos e não abalamos o mundo, o mundo é que nos abala a nós! Pode-se entender porque nossos próprios filhos nos abalam. Nossas próprias congregações nos abalam. Mesmo nas nossas igrejas, lia pessoas que fazem do casamento a coisa mais importante na vida. Podemos ainda na Igreja achar pessoas que se dizem crentes, mas vivendo sob o efeito do álcool. E eles são membros de nossas Igrejas! É possível compreender, agora, nossa reacção e a da congregação Zulu de Mapumulo em 1966, quando olhamos para a Igreja Primitiva. Nós sentimos que aquela Igreja estava distante de nós não dois mil anos, mas como o Leste esta do Oeste. E nós tão distantes da Igreja Primitiva com o Oeste do Leste. Que diferença!

Quando lemos os relatos da vida daquele povo, tivemos a impressão de que Jesus não era apenas um passatempo para eles. Algo para o fim-de-semana, mas que era a própria vida deles. Cada dia de suas vidas, Jesus era o seu tudo.  Alguns daqueles crentes da Igreja dos apóstolos chegaram ao ponto de vender suas propriedades, suas fazendas, trazer o preço da renda e colocar aos pós dos apóstolos. Jesus significava mais do que qualquer outra coisa no mundo para eles. Era assim que eles viviam para o Senhor. Reuniam-se diariamente e tinham tudo em comum – sem serem comunistas. Pode ser que os comunistas tentem imitar a Igreja Primitiva, mas sem Jesus, não funciona. Nenhum dos discípulos dizia "Isto e meu". Eles não eram egoístas, não pensavam em si próprios; eles eram cheios do Espírito Santo. Percebemos, então, como é uma pessoa cheia do Espírito. Ela não vive para si mesma, mas para o próximo. Isto foi o que concluímos observando suas vidas.

Continuando nossa pesquisa, deparamo-nos com as dificuldades que a Igreja de Jerusalém enfrentou. O diabo não dorme e, aproximando-se, encheu o coração de Ananias (Actos 5). O diabo também quer encher os nossos corações com desejos de fazermos o que é errado. A Bíblia diz: “Não deis lugar ao diabo", e isto é para os crentes Portanto, não venha me dizer que o diabo não pode entrar no coração de um crente. A pessoa que diz este tipo de coisa, não sabe do que está falando. Tua própria Bíblia diz "Não deis lugar ao diabo!" É possível, infelizmente, que um crente, mesmo havendo nascido de novo, minta. Mesmo que chame a mentira santa", a esta altura o diabo já entrou em seu coração. É claro que um crente não pode ficar endemoninhado, mas o diabo pode encher seu coração com tentações.

Tal coisa aconteceu a Ananias. Sua esposa havia acordado com ele em que vendessem sua fazenda, como os demais crentes estavam fazendo também. Nós sabemos o motivo, nem mesmo quem teve a ideia, se Ananias ou Safira, mas um dos dois deve ter começado tudo. E como outros crentes haviam feito isso, disseram: "Bem, é algo bom, vamos fazer também." Nós, os crentes, somos imitadores brilhantes. Se alguém faz alguma coisa, nós também o fazemos, sem saber o porquê. O profeta Isaías disse: "Todos nós andamos como ovelhas". Uma ovelha faz alguma coisa e a que vem atrás faz o mesmo.

Eventualmente venderam sua propriedade. Pode ser que até oraram por isso. Deus mandou um comprador e de alguma forma, eles concordaram em não levar o preço total da venda para os discípulos. "Vamos guardar uma parte, e fazer de conta que tudo está lá". Não sabemos o que os levou a fazer isso. Talvez disseram: "Estamos ficando velhos, não sabemos o que o futuro nos reserva". O certo é que ambos, marido e mulher, resolveram secretamente levar uma parte do preço da venda para os discípulos e esconder o restante.

E Ananias se foi com algum dinheiro. Quando chegou aos apóstolos, colocou-o aos pés de Pedro, cheio do Espírito Santo, imediatamente percebeu que alguma coisa estava errada. O Espírito Santo, que também é o Espírito da Verdade, disse: "Pedro, algo não cheira bem neste negócio, há alguma coisa errada". E Pedro prontamente interpelou a Ananias: "Foi isto o que você ganhou com a venda da fazenda?" – Ele respondeu, "Foi". "Por que encheu o diabo seu coração? ", perguntou Pedro. " A fazenda não era sua? O dinheiro da venda não era seu? Você poderia ter feito com ele o que quisesse, pois afinal era seu. Mas, por que você tinha que mentir ao Espírito Santo sobre esse assunto?" E quando Ananias ouviu aquelas palavras, caiu morto. Em Mapumulo, percebemos com temor que a Igreja Primitiva era de uma natureza tal, que nem mesmo permitia uma "mentira santa". Lá não havia lugar algum para o pecado, nem os discípulos tinham tempo para pecar. Eles tratavam o pecado tão severamente e julgavam-no de tal forma, que um homem morreria por causa de uma "mentira santa". Assim era a Igreja Primitiva, a Igreja do Cristo vivo, do Senhor ressurrecto. E eu me pergunto se nós, hoje em dia, temos o direito de nos chamar de Igreja de Cristo. Pergunto-me se percebemos realmente o que o pecado significa. Na Igreja Primitiva um homem pecou contando uma mentira que talvez nós considerássemos uma mentira santa. Aquele "pequeno pecado" foi tratado tão severamente que ele precisou ser morto. Desta forma, o Espírito e a Igreja declaram que é melhor para um crente estar morto na sepultura do que vivo na Igreja com uma mentira em suas costas.

O que nós estamos fazendo hoje? Servimos e adoramos ao Rei dos Reis com o pecado em nosso meio. Sobre que fundamento estamos construindo? Desculpamo-nos - "Mas fulano é membro da igreja, nasceu na Igreja, foi baptizado, juntou-se à Igreja." No dia do juízo esta desculpa vai queimar como palha; nenhum "professo" e ombro da Igreja do Cristo Vivo e Santo entrará no Reino de Deus por pertencer a uma organização, mas porque foi genuinamente nascido de novo, nascido do alto e sua vida testifica desta realidade. Três horas depois do julgamento de Ananias da parte de Deus e sua esposa chegou. Ela não tinha a menor ideia do que acontecera. Pedro a confrontou imediatamente: "Safira, diga-me, vocês venderam vossa propriedade por este preço?" Bem, Safira tinha que ser fiel ao marido. Eles haviam concordado em fazer aquilo e afinal respondeu: “Sim". Pedro perguntou-lhe por que concordara com seu marido em fazer uma coisa daquelas: como pudera concordar em fazer aquilo. Disse Pedro: "Veja, os mesmos pés daqueles que enterraram seu marido estão à porta, para levá-la também". Ouvindo estas palavras, ela também caiu morta. Amigos, a Igreja Primitiva era assim. Nós nos perguntamos em 1966: Se houvesse uma Igreja tal na nossa área, quem de nós se atreveria a fazer parte dela? O que aconteceria connosco, com nossas "mentiras santas", nossos "pecadinhos de estimação", que algumas vezes não são tão santos ou pequenos assim mesmo? Eu pensei comigo mesmo, "Graças a Deus não existe uma Igreja assim hoje em dia, graças a Deus eu não vivi naquela época, porque, se tivesse vivido, sentiria que era minha obrigação sair avisando às pessoas: Amigos, cuidado! Aquela Igreja é perigosa! Coisas terríveis acontecem por lá. Há pessoas cometendo suicídio nela! Pedro não pode ser um homem de Deus, nem ter um coração cheio de amor! Ninguém com amor no coração agiria daquela forma! Aquilo foi crueldade! Ele nem mesmo deu uma chance à Safira, simplesmente a confrontou na presença de todos".

Amigos, pode ser que devamos dar graças a Deus por não termos vivido naquela época, pois é possível que nós acabássemos sendo os inimigos mais ferozes do Espírito Santo. Uma coisa eu lhes digo: Se estão orando por avivamento, por um derramamento do Espírito, deixe-me dizer-lhes que estão orando por alguma coisa que o mundo não compreende e pode até ser que nem vocês próprios entendam o que estão pedindo. Vemos no exemplo da Igreja Primitiva o que acontece quando o Espírito Santo vem e assume o comando da Igreja. O problema connosco é que lemos estes relatos superficialmente e somos tão superficiais que não pegamos bem o verdadeiro sentido e significado. Imagine simplesmente o que aconteceria se uma Igreja assim existisse hoje! Talvez e expulsássemos e rejeitássemos aquele povo: "Fanáticos! Extremados! Sem amor! Não conhecem a graça!"

Eu confessei à pequena congregação Zulu em Mapumulo que se eu fosse Pedro, possivelmente, quando Ananias  viesse a mim, eu o abraçaria, daria um beijo fraternal, e lhe diria; "oh irmão, Deus lhe abençoe!" Não me importaria se ele estivesse contando uma "mentira santa" ou não. Eu diria a mim mesmo, "Dê uma olhada nesta oferta que ele está dando, estes milhares de Rands! É disto que estamos precisando". E talvez eu ainda o abraçasse dizendo: "irmão, na próxima reunião do conselho vou propor que você seja eleito diácono, se é que você ainda não é um!" Ananias é o tipo de pessoa que sempre queremos ter na Igreja, não ó verdade? Ou seja, que tem dinheiro. Mas Pedro não disse estas palavras, e temos até a impressão de ele ter dito: "Ao inferno você com o seu dinheiro". Não há lugar na Igreja para uma pessoa que mente, é desonesta e fala a verdade pela metade. É melhor que seja comido pelos vermes do que estar viva na Igreja.

Amigos, não fomos muito longe em nossa pesquisa. Voltamos ao capítulo três de Actos, onde está escrito que Pedro e João foram ao templo orar. Quando encontraram aquele mendigo Pedro disse: "Olha para nós! Não tenho prata nem ouro, mas o que tenho, isto te dou em nome de Jesus Cristo, levanta-te!" Vamos examinar cuidadosamente o que Pedro disse. A primeira coisa foi "Olha para nós". Perguntamo-nos, em Mapumulo, como é que Pedro pôde cometer um erro daqueles. Nós não devemos dizer: "Olhe para nos", mas sim. "Olhe para Jesus. Não olhe para os crentes, olhe para Deus, olhe para a Palavra de Deus. Não, olhe para nós!". Como Pedro pôde cometer um erro daqueles? Naturalmente podemos entendê-lo: Ele não teve nossos professores, nossas universidades, e nossos seminários! Temos que levar isso em consideração! Deparamo-nos no entanto com o fato de que ele teve o melhor dos professores! Os demais mestres são tolos, comparados com Jesus. Pedro esteve aos pés do nosso Mestre, o maior dos professores. Pesquisamos a Bíblia para ver como ele podia ter dito aquilo e chegamos a 2 Coríntios, capitulo 3: "Vós sois cartas vivas, escritas não com pena e tinta, mas com o dedo de Deus, pelo Espírito de Deus, e esta carta é lida por todos”. "Ah", nós dissemos, "agora estamos compreendendo!" A mão de Deus estivera trabalhando na vida de Pedro e João de tal forma que, sem ficar envergonhados, podiam dizer "Olha para nós". Antes de começar o seu ministério de cura, antes de pregar sua própria mensagem, Pedro e João disseram aos que lhes ouviram - "Olhem para nós". Podemos nós, como testemunhas de Cristo, como regenerados da Igreja de Cristo, dizer ao mundo hoje "olha para nós", antes de entregarmos nossa mensagem? Você pode, como pai, ao exortar seu Filho, antes disto dizer a ele "Olhe para mim, para a vida que eu vivo"? Somos exemplos para eles? Antes de pregarmos aos nossos empregados podemos dizer-lhes "Olhem para nós"?

Descobrimos que nós próprios não podíamos dizer como Pedro. O que dizíamos, "Faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço"; era exactamente o que os fariseus diziam. Em Mateus 23:3 o Senhor Jesus diz: "Tudo o que os escribas e fariseus lhes disserem, façam: mas não façam o que eles fazem, porque eles não praticam o que pregam." Esta é a definição de um fariseu. O escriba e o fariseu do século vinte são exactamente a mesma coisa, ou seja, pessoas que pregam a verdade, mas não praticam. Quantas vezes pensamos que fariseu é alguém que fala mentiras e prega mentiras! Jesus não teria dito a seus discípulos "Tudo o que eles vos disserem, isto fazei", se os fariseus inventassem histórias. Eles falavam a verdade, embora eles mesmos não a praticassem.

É como o caso de um certo pregador, famoso internacionalmente, que era convidado para pregar em muitos locais. Numa de suas viagens este homem levou sua mulher. Ele havia sido convidado para pregar em uma catedral enorme. Tinha um dom de pregar tal, que todos ficavam quase hipnotizados ao ouvi-lo e o silêncio era tamanho no auditório que dava para ouvir até o barulho de uma agulha caindo. Sua homilética era tão fantástica que ele não usava a mesma palavra duas vezes no mesmo sermão! Duas mulheres da liderança da igreja receberam sua esposa com boas-vindas, acompanharam-na dentro da Igreja e sentaram com ela no primeiro banco. Este homem subiu ao púlpito e pregou. Todos ficaram abismados, nunca ouviram alguém pregar assim. Fantástico! Depois da mensagem, saíram da Igreja no maior silêncio, sem dizer uma palavra. Lá fora, uma das senhoras se atreveu a dizer a mulher do pregador: "Oh, deve ser maravilhoso, indescritível, ter um marido que prega assim!" E ela disse: ''É, mas você não sabe como ele ó quando está em casa!" Percebem? Se nossa vida não impressiona nem nossas esposas, quanto mais o diabo! E seus filhos? Você está surpreso por eles serem o que são? Mas onde é que eles aprenderam a ser o que são? Um fariseu é alguém que professa a verdade, mas seus actos não condizem com seus lábios. Isto é um fariseu. E que Deus tenha como conceder que, se houver alguns entre nós, que se arrependam e se tornem filhos de Deus e parem de ser como os escribas!

Pedro havia dito ao mendigo. "Olha para nós", e nós nos consciencializamos, mesmo antes do derramamento do Espírito em 1966, que, se antes de pregarmos aos Zulus pagãos não pudéssemos dizer "Olha para nós", não tínhamos o menor direito de abrir nossas bocas. Então Deus começou a trabalhar em nós, tratando de certas coisas em nossas vidas. Percebemos ainda que alguém poderia perguntar, "Pedro, você não está envergonhado de dizer olha para nós? Você traiu o Senhor há pouco, de forma terrível! Como agora vem dizer isto"! E ele poderia responder, "Sim, meu irmão, eu posso falar assim. Pequei, é verdade, mas arrependi-me. Chorei por causa do meu pecado e recebi perdão. Estou perdoado". Sim, quando Deus perdoa, ele também esquece e eu também posso esquecer. Isto é o Evangelho! Não precisamos viver no passado, mas podemos confessar verdadeiramente nossos pecados perdoados, continuar sem ter do que nos envergonhar, se realmente já colocamos nossa vida em ordem com Deus e se de forma verdadeira e genuína chegamos a nos arrepender.

Consciencializamo-nos de que, ainda que Pedro disse ao mendigo, "Não tenho prata nem ouro". Se chegássemos ao ponto de não termos prata nem ouro, poderíamos ainda dizer ao povo. "Olha para nós"? Se fôssemos as pessoas mais ricas do mundo, se ganhássemos muito dinheiro, se tudo desse certo e se tudo que tocássemos se transformasse em ouro, então poderíamos sorrir e sem esforço algum dizer às pessoas "olhem para nós"; entretanto, se as coisas fossem mal e nós entrássemos em falência, se estivéssemos no fim, poderíamos dizer, “Olhem para nós”? Pedro disse: "Não tenho ouro nem prata"; honestamente: não foi somente um truque para não dar um tostão ao mendigo. Às vezes nós dizemos, "não tenho dinheiro", com o bolso cheio. Mas Pedro falou a verdade quando disse. “Não tenho prata nem ouro”. Pedro não estava envergonhado deste fato: ele disse, "mas o que eu tenho". Ele tinha alguma coisa. E o que era? Algo mais precioso que ouro: "Em nome de Jesus Cristo, levanta-te!”

E falando sobre este assunto, contei à congregação de Zulus a história de um certo sacerdote católico romano. Um dia, depois de uma missa, onde milhares de pessoas haviam estado, colocou-se uma mesa à poria da igreja para o  recolhimento de ofertas e quando todos saíram, a mesa estava carregada de dinheiro, de ouro e de prata. O velho sacerdote estava contando o dinheiro junto de um padre novo. Disse o sacerdote: "Veja, Jovem, Pedro não pode mais dizer que não tem ouro nem prata." Em outras palavras, o Papa não pode dizer isto hoje em dia. Então o jovem padre retrucou: “Nem pode dizer "em nome de Jesus, levanta-te e anda!” O que a Igreja Primitiva tinha, nós não temos mais. Perdeu-se em algum lugar ao longo do caminho! E o que eles não tinham, nós temos, isto é, dinheiro: e inclusive isto tem uma influência muito grande em nossas vidas, não e verdade? O dinheiro fala muito alto. Ao deliberarmos se devemos nos dedicar ao trabalho do Senhor ou não, ou quando vamos dar nossas ofertas, levamos o dinheiro em consideração. Talvez nós sejamos um pouco como Judas Iscariotes.

Quando acabei de falar tais palavras numa de nossas reuniões, em 1966, em Mapumulo, uma pessoa convertida havia meses somente, levantou-se, com lágrimas descendo pelo rosto, e disse: "Oh, umfundisi, por favor, pare!" Eu estava no meio do sermão! Na metade de uma frase, aquela pessoa simplesmente me fez parar. As lágrimas desciam pela face ansiosa. "Está bem", eu disse, "o que você deseja?" E a pessoa perguntou, "posso orar?" Fiquei desorientado, sem saber o que fazer. Alguém recém-convertido, de repente se levanta no meio dum culto, pára o sermão e pede para orar! Eu fiquei sem saber se deixava ou não. Ela não tinha educação teológica, não era nem diácono, nem presbítero, será que oraria certo? E se ela orasse errado? Mas aí, olhei bem para ela e pensei. "Bem, ela não está se fazendo de tola. Parece estar séria mesmo, as lágrimas estão aí... – Está bem, pode orar". Então aquela jovem orou em lágrimas esta oração bem simples: "Oh, Deus, nós ouvimos como era a Igreja Primitiva. Será que não podes descer para estar entre nós também, como fizeste a dois mil anos atrás? Será que a Igreja hoje não poderia ser a mesma que foi em Jerusalém"? Meu coração começou a queimar dentro em mini. Lembrei-me dos dois discípulos no caminho de Emaús, quando um terceiro homem, desconhecido, juntou-se a eles, e conversou com eles: só depois que ele partiu o pão é que seus olhos foram abertos para ver que era Jesus e um disse ao outro "Você sentiu o ardor, o fogo dentro em nós, quando Ele nos abriu as Escrituras?" Eu agora sabia o que eles sentiram. Ela continuou a orar, "Oh, Deus, opera de tal forma que teus filhos, a Igreja de hoje, se torne como a Igreja Primitiva. Será que o Senhor não pode fazer isto, outra vez? Aviva a tua obra, ó Senhor! Será que os crentes não podem ser de novo como os cristãos primitivos?” Após a reunião, fui ter com meu irmão que morava perto do local das reuniões e  disse-lhe: "Aconteceu algo estranho hoje. O culto foi interrompido, não por terroristas ou por um tumulto, mas por uma oração. Aquela oração veio de Deus e foi guiada pelo Espírito Santo e eu não duvido que não vai demorar e o Deus dos antigos estará no nosso meio de novo e a Igreja será como a igreja Primitiva". Então, depois de uma semana e meia. Deus fendeu os céus e desceu.

 

O DERRAMAMENTO DO ESPÍRITO

Está escrito em João 7:38, "Quem cré em mim, como diz a Escritura, do seu interior fluirão rios de água viva". E em Isaías 64: 1- 4. "Oh, se fendesses os céus e descesses! Se as montanhas se derretessem na tua presença, como quando o fogo faz a água ferver, para fazeres teu nome conhecido aos teus inimigos, e as nações tremerem na tua presença! Quando fizeste coisas grandiosas que não esperávamos, tu descestes, e os montes se derreteram na tua presença, pois desde o inicio do mundo não se ouviu um Deus semelhante a ti, que trabalha em lavor dos que nele esperam" Em me pergunto se alguma vez já oramos como o profeta Isaías descreve. Esta oração é uma genuína oração por avivamento. Em 1966, quando estávamos desesperados com a situação da nossa Igreja e com a nossa própria situação, nós oramos desta forma. Quando eu digo "avivamento”, não estou me referindo a "reuniões de avivamento". Pois podemos usar este termo erradamente e dizer, “estamos tendo reuniões de avivamento". Quando digo "avivamento", estou me referindo a quando Deus fende os céus e desce, as montanhas se derretem e o fogo realmente queima. Deus vem para o nosso meio e todos tomamos consciência da Sua presença.

Quando nós, em Mapumulo, oramos por avivamento, fervorosamente, de manhã e à tarde, depois de dois ou três meses não era mais um estudo bíblico, nem mesmo uma reunião de oração: nós simplesmente chorávamos. Tínhamos orado que Deus descesse e operasse entre os pagãos. Não nos consciencializamos nessa época, que isto era simplesmente impossível. Deus nunca começa com os pagãos; nunca com os da rua. Quando Ele começa sempre é, como Pedro disse,"pela casa de Deus". Os crentes têm mais culpa por não estarem reavivados e experimentando uma vida santa, do que os descrentes por não estarem salvos.

Eu li para a congregação o que Jesus dissera em João 7:38: "Se alguém crê em mim, rios de água viva fluirão do seu interior". Ele nunca mencionou um fio de água, ou um riacho, mas um rio. Se olhamos esta palavra no Novo Testamento, temos a impressão que ela significa rio mesmo, uma grande corrente de águas. Lemos do Eufrates, do rio de Apocalipse, e também do rio Jordão, que nem é mesmo o maior, mas tem épocas que chega a ser um grande rio, quando transborda. Quando lemos do Jordão, lembramos do baptismo de João e, sem dúvida, havia lá muitas águas. Jesus disse "rios", não somente um rio, mas muitos. Nós temos aqui na África do Sul os rios Tugela e Far. Sabemos que com um rio podemos transformar um deserto num jardim. Podemos gerar electricidade; irrigar os campos; fazer fábricas funcionarem. Tudo isso com um rio apenas. Quanto mais com vários rios! Jesus disse que “rios de água viva”  fluiriam daquela pessoa que cresse n’Ele. Perguntamo-nos em Mapumulo: "Há rios de água viva fluindo de nossas vidas?" E a resposta foi "Não". Um rio quanto mais comprido, maior, mais largo e mais fundo, mais forte se torna. Não podemos parar água corrente. Podemos tentar construir uma barragem a fim de pará-la, mas, na realidade, quanto mais obstáculos pomos a uma corrente de água, mais forte ela se torna, mais poder gera e maior a superfície que ela cobre. No final das contas só se está contribuindo para que ela tique cada vez mais forte, até que, se o obstáculo não for suficientemente forte, será destruído! Se o obstáculo puder resistir à força da água, ela eventualmente cobrirá uma área enorme e então correrá por cima do obstáculo! Em outras palavras, se alguém crer, diz o Senhor Jesus, não haverá nada neste mundo capaz de parar tal vida de fé, aquela influência, aquele Espírito, as águas vivas que fluirão do seu interior. Não há nada mesmo. Nem o comunismo, nem o mundanismo, nem outra coisa qualquer pode parar a água que corre do íntimo de apenas um crente.

Lembro-me que um dia perguntei àquele pequeno grupo: "Quem de vocês crê em Jesus? Então fiz algo que normalmente não faço. Pedi que aqueles que dissessem que criam em Jesus, levantassem suas mãos. E não uma pessoa naquele salão que não cria em Jesus! Disse-lhes: “Jesus afirmou que rios de água viva fluiriam daqueles que cressem n’Ele. Posso fazer-lhes uma pergunta pessoal? Estão fluindo rios de vossas vidas? Eles disseram, "Não". "Isto significa que vocês não crêem em Jesus?" – insisti. Responderam: "Estamos convictos que cremos em Jesus! Nós aceitamos a Cristo! Nós entregamos nossas vidas a Ele, não podemos duvidar disto!" "Bem, se nós cremos n’Ele, ou estamos nos enganando ou o que Jesus disse não é verdade. Jesus se refere às Escrituras e diz que elas afirmam que rios de água viva fluirão do nosso interior. O que vamos fazer agora? Não vamos tentar nos justificar ou achar uma outra explicação para este texto". Estávamos meio perdidos, naquela altura, sem poder realmente entender.

Então, de repente, parecia que o Senhor estava mostrando-me algo. Eu disse, "Notem bem, Jesus falou que aquele que crer n’Ele como as Escrituras